A psicóloga Ivone Patrão alerta para os riscos da ciberdependência no novo livro 'Ainda Vamos a Tempo', discutindo como resgatar os filhos da tecnologia.
A psicóloga clínica Ivone Patrão lançou o livro intitulado 'Ainda Vamos a Tempo - O que Podemos Fazer para Resgatar os Nossos Filhos dos Ecrãs'. Neste trabalho, editado pela Contraponto, a especialista, reconhecida pelo seu trabalho sobre ciberdependência e segurança digital, oferece orientações para um uso responsável da tecnologia.
Ivone Patrão destaca a necessidade urgente de os pais reconectarem com os filhos em um mundo onde a tecnologia muitas vezes toma o lugar das interações reais. Segundo a psicóloga, os jovens frequentemente se isolam nas suas redes sociais, alimentando uma "vida paralela" que muitas vezes exclui a parentalidade. Um exemplo alarmante é o de um jovem que, preso ao vício dos jogos online, chegou ao ponto de não se deslocar à casa de banho, utilizando um bacio ao lado da sua cadeira de gaming.
A autora identifica vários peligros associados ao uso indiscriminado das tecnologias, desde a falta de empatia até a exposição a conteúdos inapropriados que normalizam a violência e o discurso de ódio. A sua preocupação centra-se numa relação tóxica entre os indivíduos e a tecnologia, a qual precisa ser urgentemente revista.
De acordo com a especialista, é fundamental que pais, educadores e familiares unam esforços para guiar os jovens no uso da tecnologia, reconhecendo que a aprendizagem sobre o uso responsável deve começar na infância. O desafio está em educar as crianças sobre os riscos associados ao consumo excessivo de recursos digitais, evitando que se tornem dependentes e vulneráveis.
As conversas sobre limites e supervisão são essenciais. Ivone Patrão frisa que a exposição a conteúdos nocivos pode comprometer não apenas a saúde psicológica, mas também a física dos jovens. Pais devem ser proativos na supervisão do que os filhos consomem nos ecrãs, utilizando um diálogo aberto e sem julgamentos para fomentar a comunicação.
Patrão também salienta a importância de criar momentos de interação familiar, como partilhas durante as refeições, onde as conversas fluem e onde a presença das tecnologias deve ser abolida. O objetivo é construir relações mais saudáveis e menos dependentes do virtual.
O problema da ciberdependência não é exclusivo aos jovens, afetando igualmente as relações familiares. A autora destaca a necessidade urgente de reconhecer que a dependência da tecnologia pode levar a situações alarmantes, como a descrição de jovens que se tornam "hikikomoris", pessoas que evitam a interação física. O impacto psicológico e social é significativo, e o desafio está em reverter essa tendência antes que se torne mais crítica.
Num apelo à ação, Ivone Patrão pede uma maior conscientização sobre as consequências da ciberdependência, defendendo que a supervisão, o diálogo e a educação devem ser prioridades. O futuro do bem-estar das nossas crianças e da qualidade das nossas relações depende da capacidade dos adultos de instaurar limites e dar o suporte necessário na era digital.