A OMSA revelou um aumento significativo nos surtos de gripe aviária em mamíferos, duplicando em 2024, levantando preocupações sobre a potencial transmissão aos humanos.
De acordo com um relatório recente da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), o número de surtos de gripe aviária em mamíferos subiu para 1.022 em 2024, uma cifra alarmante que mais do que duplica em relação aos 459 casos registados em 2023, abrangendo 55 países.
Nos últimos anos, a gripe aviária tem-se espalhado globalmente, resultando na morte de várias pessoas que tiveram contacto com aves infetadas. Cada vez mais, a doença tem afectado mamíferos como gado, cães e gatos, aumentando a probabilidade de adaptação do vírus e, consequentemente, de infecção humana, embora o risco de transmissão continue a ser considerado baixo.
Emmanuelle Soubeyran, diretora-geral da OMSA, expressou a sua preocupação com a alteração do padrão epidemiológico do vírus, afirmando à agência France-Presse que "assistimos a uma mudança que não podemos ignorar".
Peritos em saúde alertam que a gripe aviária é uma potencial ameaça pandémica, dado o histórico do vírus em mutações e na propagação em explorações agrícolas, como evidenciado nos Estados Unidos. Para agravar a situação, a administração do ex-presidente Donald Trump implementou cortes significativos nos orçamentos destinados a agências de saúde e ciência, o que prejudicou programas essenciais de vigilância epidemiológica.
O relatório da OMSA sublinha que a gripe aviária não é apenas uma crise de saúde animal, mas sim uma emergência global com implicações devastadoras para a agricultura, segurança alimentar, comércio e ecossistemas. A importância da vacinação das aves é realçada, uma vez que pode ajudar a interromper cadeias de transmissão e reduzir o risco de infecção para mamíferos e humanos.
Soubeyran acrescenta que as vacinas não são sempre a solução ideal e pede um investimento mais robusto em biossegurança, vigilância e cooperação internacional para enfrentar este desafio crescente.
O primeiro surto de gripe aviária pelo H5N1 foi registado em Hong Kong, em 1997, sendo contido com o abate massivo de 1,5 milhões de aves. Desde 2003, o vírus provocou várias ondas de surtos, afectando mais de 60 espécies de mamíferos desde 2015, incluindo cães, gatos e porcos. O vírus, transportado por aves selvagens, também infetou leões-marinhos na América do Sul e visons na Europa.
A Europa registou entre outubro de 2024 e janeiro deste ano mais de 840 focos da gripe, com destaque para a Hungria e Itália. Embora a transmissão para humanos seja rara, quando ocorre, pode resultar em condições severas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou no ano passado 81 casos em humanos, o maior desde 2015.