Especialistas alertam para os riscos de métodos temporários de emagrecimento promovidos nas redes sociais, enfatizando a obesidade como uma doença crónica que requer tratamento sustentável.
O presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), José Silva Nunes, expressou preocupações sobre a crescente popularidade de publicações nas redes sociais onde influenciadores divulgam esquemas alimentares e promessas de emagrecimento rápido.
“Na maioria das vezes, trata-se de pura charlatanice. As pessoas entram em aventuras dispendiosas e esquecem-se do principal, que é o funcionamento do organismo de quem sofre de obesidade”, revelou o endocrinologista à agência Lusa, no contexto do Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, celebrado no sábado.
O especialista ressaltou que, embora seja possível tentar perder peso, o corpo tende a fazer o oposto, ou seja, recuperar os quilos eliminados.
“Sem intervenção farmacológica que ataque o ponto de controlo do peso corporal, mesmo com dietas extremas e exercícios intensivos, os resultados não são sustentáveis. As pessoas não conseguem manter tais esforços ao longo da vida”, alertou.
Nunes citou o programa “The Biggest Loser”, um reality show norte-americano que mostrou participantes a perderem grandes quantidades de peso rapidamente, mas que, seis anos depois, recuperaram o que haviam perdido, demonstrando que tais intervenções estão condenadas ao fracasso a médio prazo.
“O organismo estabelece um ‘set point’ para um determinado peso. Quando se perde peso drasticamente, o corpo interpreta isso como uma ameaça e ativa mecanismos para recuperar os quilos perdidos”, explicou.
Os medicamentos, segundo Nunes, são essenciais no tratamento da obesidade, e ele defendeu que o Estado deve subsidiar estes fármacos, considerando que a obesidade afeta cerca de 15,9% dos adultos em Portugal, enquanto 37,3% da população tem excesso de peso.
Carlos Oliveira, presidente da ADEXO - Associação Portuguesa de Pessoas que Vivem com Obesidade, reforçou a sua preocupação sobre soluções temporárias, afirmando que “a obesidade é uma doença crónica. Não tem cura. O que as pessoas precisam é de uma mudança de estilo de vida duradoura.”
Oliveira alertou que todos os métodos disponíveis, incluindo cirurgias, visam controlar a doença, não curá-la. “Qualquer abordagem temporária que prometa resultados rápidos é uma ilusão; ao parar, a pessoa poderá acabar com ainda mais peso”, enfatizou.
O presidente da SPEO e da ADEXO deixaram mensagens claras durante este dia simbólico: “É vital reconhecer que a obesidade é tanto uma doença reconhecida como uma condição que deve ser tratada com base em evidências científicas e não em soluções enganosas”, destacou Nunes. Oliveira, por sua vez, apelou à população para que tomem medidas contra o excesso de peso antes que evolua para complicações maiores, e instou o governo a subsidiar medicamentos e a implementar medidas para reduzir as listas de espera.