O cortejo da Queima das Fitas na cidade de Coimbra atraiu dezenas de viaturas decoradas com mensagens críticas, refletindo a insatisfação dos estudantes.
A Queima das Fitas de Coimbra, um dos eventos mais emblemáticos da cidade, contou hoje com a participação de cerca de cem automóveis no seu cortejo, que atraíram a atenção de milhares de espectadores. Apesar do ambiente festivo, os carros apresentaram diversas mensagens de crítica social e política.
Cursos como Enfermagem e Economia foram especialmente vocais nas suas mensagens, abordando questões prementes como a crise da habitação, a precariedade no emprego e o elevado custo do ensino superior. As críticas começaram a ser feitas no Largo Dom Dinis, onde os estudantes lançaram o seu desfile.
Os carros não só apresentaram trocadilhos de cariz humorístico como também mostraram figuras proeminentes da política nacional, como o primeiro-ministro e o líder do PSD. Os alunos do curso de enfermagem, por exemplo, destacaram a necessidade de emigrar para encontrar valorização profissional, com frases como “Portugal forma, a Europa emprega”. Solange e Rosa, duas estudantes de 21 anos, relataram que a provável saída do país após a conclusão do curso é uma realidade crescente.
O destaque do carro do curso de Economia foi a crítica às frequentes eleições que impedem a implementação eficaz de políticas, com mensagens afiadas em todo o veículo. Mariana Santos, de 21 anos, explicou que “a preocupação com a imagem” muitas vezes ofusca políticas verdadeiramente benéficas para a população.
Críticas ao sistema de saúde e à falta de recursos também foram registadas, com o carro dos estudantes de Medicina a referir a sobrelotação dos serviços de urgência. De acordo com Mariana, que transitou entre os Açores e Coimbra, a má gestão hospitalar é uma causa significativa do problema.
A Faculdade de Farmácia não ficou atrás, sublinhando a desvalorização da profissão no Serviço Nacional de Saúde. Miguel Fernandes, de 23 anos, enfatizou como os farmacêuticos poderiam aliviar a pressão sobre os serviços de saúde, enquanto também se tornam cada vez mais atraídos pela emigração em busca de melhores oportunidades.
Apesar de todas as mensagens críticas, o clima festivo manteve-se vivo ao longo de todo o cortejo, com tradições como os banhos de cerveja e as habituais “bengaladas” na cartola dos alunos finalistas, ao som de música contagiante e com uma multidão animada a assistir, tanto nas ruas como nas varandas das casas.