O investigador Vasco Martins apela a um debate crítico sobre as interações de Portugal com as antigas colónias africanas, sublinhando a necessidade de um novo paradigma de cooperação.
O investigador Vasco Martins enfatiza a importância de Portugal repensar a forma como se relaciona com as suas ex-colónias em África, surge com reflexões profundas na celebração dos 50 anos das independências. Martins salienta que é crucial considerar a “qualidade da interação” com estes países, que, um dia, poderão ser democráticos e contribuir para a discussão sobre os desequilíbrios históricos e interesses egoístas que têm caracterizado essa relação.
Com um Doutoramento em Estados Africanos e a sua posição como professor no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Martins defende que Portugal deve assumir a responsabilidade histórica de reparação e promover uma verdadeira dialética de cooperação solidária. “As estratégias devem ser ‘win-win’, focando na cooperação e no desenvolvimento mútuo”, detalha.
Examinando a situação nas ex-colónias, o investigador recorda que Angola, ao declarar a independência, viu o seu território ser cenário de guerra. “Enquanto Agostinho Neto proclamava a independência em Luanda, a guerra eclodia em outras regiões. O país, com a ajuda de potências externas, viu-se mergulhado numa guerra civil que durou 27 anos, marcando o continente com um rasto de destruição sem precedentes.”
Após o término da guerra civil, José Eduardo dos Santos emergiu como líder, estabelecendo um regime opressivo que perpetuou o medo e a pobreza. “A economia angolana, dependendo do petróleo, cresceu, mas a falta de diversificação manteve os níveis de pobreza elevados, e a cidadania continua a ser um desafio.”
No caso de Moçambique, o país, embora tenha feito progressos, ainda enfrenta desafios significativos. “A tragédia da guerra no norte, motivada pelo fundamentalismo islâmico, expôs as falhas do Estado. O descontentamento da população manifestou-se nas violentas eleições de outubro de 2024.”
A Guiné-Bissau, segundo Martins, é um exemplo de um Estado ausente. Apesar de algumas melhorias democráticas, a corrupção e as violações de direitos humanos levantam preocupações sérias. “Os guineenses sentem que o seu Estado não os representa, o que agrava a situação socioeconómica.”
Por outro lado, em Cabo Verde, os direitos sociais e humanos são mais respeitados, e a democracia é mais robusta. “Cabo Verde tornou-se um dos países mais livres de África.” São Tomé e Príncipe espelha algumas das dificuldades de Cabo Verde, com a pobreza persistente e a dependência de ajuda externa. O futuro da exploração petrolífera é incerto. “Resta saber se estas receitas serão utilizadas de forma eficaz ou se sucumbirão à corrupção”, questiona Martins.