Revelações sobre a Orquestra Feminina de Auschwitz: A Música como Forma de Resistência

Anne Sebba, historiadora britânica e autora de 'A Orquestra Feminina de Auschwitz', apresenta uma investigação meticulosa que revela a realidade do campo de concentração através da música e do sofrimento vivenciado pelas prisioneiras. Durante uma entrevista à Lusa, Sebba explica que o seu livro não é uma obra de ficção, mas sim um retrato documentado da vida no campo, sustentado por testemunhos de sobreviventes.

A autora destaca que \"a orquestra feminina é um espelho do sadismo nazista e da sua capacidade de tortura\", ilustrando como a musicalidade se transformava em uma arma de duplo sentido, afetando profundamente tanto as instrumentistas como as mulheres que eram forçadas a marchar ao som da sua música. Apesar das indescritíveis condições de horror, Anne Sebba observa um espírito de solidariedade entre as mulheres, que conseguiram salvar pelo menos 40 vidas."

Referindo-se ao campo de Bergen-Belsen, libertado em 1945, Sebba expressa a sua perplexidade pelo desconhecimento sobre os eventos ocorridos ali, comparando com o reconhecimento incomum da Batalha de Dunquerque. \"Por que não se discute mais Bergen-Belsen?\", questiona. Para ela, as experiências únicas vividas pelas mulheres em campos de concentração como Auschwitz revelam a necessidade urgente de contar e recontar estas histórias.

A historiadora também critica a percepção da separação das mulheres de suas mães, uma circunstância que aprofundava a angústia. As prisioneiras enfrentavam humilhações como a proibição de roupas íntimas e a tensão emocional de verem os seus entes queridos desaparecerem. \"Esta situação é refletida na necessidade de contextualizar o que elas passaram na mentalidade da época\", diz.

Com um repertório que inclui mais de 200 obras, as músicos da orquestra superaram as proibições impostas pelos nazis, mantendo viva a esperança de um dia ser livre novamente. \"Desafiavam o sistema, procurando recuperar algo do que significava ser humano\", afirma.

Sebba conclui com uma advertência sobre a repetição da história e os riscos de novos conflitos se não forem extraídas lições adequadas do passado. Ela reafirma o compromisso em preservar a memória dos horrores da II Guerra Mundial e do Holocausto, sublinhando que, como historiadora, é essencial abordar a \"maior calamidade\" do século XX.