Um novo manual de boas práticas foi lançado para apoiar profissionais de saúde a oferecer cuidados equitativos a migrantes, reduzindo desigualdades no acesso à saúde.
Um grupo de investigadores do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE apresentou, numa sessão realizada esta terça-feira, um guia intitulado “Saúde em Equidade”. Este documento, que serve como manual de casos clínicos, foi concebido para ajudar profissionais de saúde que trabalham em ambientes culturalmente diversos.
A coordenadora do projeto, Carla Moleiro, sublinhou à Lusa que o objetivo é fornecer "ferramentas para mitigar a desigualdade no acesso aos cuidados de saúde" para aqueles que atendem as comunidades imigrantes. A investigadora enfatizou a importância da formação contínua para médicos e técnicos, a inserção de mediadores culturais nas equipas de saúde e a adaptação dos protocolos clínicos às diversas realidades socioculturais dos utentes.
Este manual, apoiado pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI), foi desenvolvido ao longo da pandemia, integrando relatos de boas práticas e orientações para um atendimento mais eficaz a imigrantes que, segundo Moleiro, “trazem a sua cultura” e possuem uma "visão holística" da saúde que pode divergir da abordagem ocidental.
A investigadora destacou que, frequentemente, as prescrições médicas precisam de ser acompanhadas de explicações mais detalhadas ou até de alternativas terapêuticas, uma vez que os hábitos de saúde podem ser radicalmente diferentes. “Os imigrantes tendem a revelar piores indicadores de saúde, numa parte devido a um desencontro entre as visões de saúde que trazem dos seus países e a medicina ocidental, que se concentra mais na farmacologia do que em mudanças de hábitos”, acrescentou.
O manual abrange uma vasta gama de tópicos, incluindo saúde mental, cuidados infantis e questões de orientação sexual, exemplificou Carla Moleiro. Os investigadores alertam que, embora a igualdade no atendimento possa parecer um princípio justo, essa abordagem ignora as diferenças culturais, sociais e económicas, resultando em cuidados inadequados e perpetuação de desigualdades.
Assim, defendem que é essencial formar os profissionais de saúde para que possam reconhecer e entender a “diversidade que cada vez mais caracteriza os contextos clínicos, especialmente no que diz respeito a indivíduos migrantes”.
“Este trabalho resultou de um processo de escuta e reflexão colaborativa com vários profissionais”, afirmou Moleiro. O projeto incluiu diversos módulos de formação, onde casos reais foram partilhados, formando assim o conteúdo do manual, que apresenta histórias clínicas ilustrativas das desigualdades que ocorrem na prática. “Cada interação clínica é, por natureza, um encontro intercultural, e a qualidade dessa relação é fundamental para o sucesso dos cuidados prestados”, concluiu.