O Executivo venezuelano arrolou várias ONGs como integrantes de uma alegada "rede terrorista" associada a planos para desestabilizar o país, resultando em detenções de opositores.
O governo da Venezuela fez hoje acusações graves a algumas das principais organizações não-governamentais do país, alegando que estão envolvidas numa "rede terrorista". A afirmação foi feita pelo ministro do Interior, Diosdado Cabello, durante uma conferência de imprensa transmitida pela Televisão Venezuelana (VTV).
Cabello identificou as ONGs Provea, Foro Penal, Médicos Unidos e Maracaibo Posible como elementos de uma suposta estrutura que planeava "atacar" residências e embaixadas de países como Colômbia, Espanha, e França, assim como escritórios da ONU, numa tentativa de boicotar as eleições regionais e legislativas agendadas para domingo.
"Não nos importa que tentem se passar por defensores dos direitos humanos (...) é pura invenção, é uma grosseira mentira. Quem realmente defende os direitos humanos não pode ameaçar a paz de um país", reiterou Cabello.
A Foro Penal é uma das ONGs mais reconhecidas por sua atuação no monitoramento de presos políticos na Venezuela. O ministro alega que estas organizações se apoiam em bandos criminosos e recebem financiamento do narcotráfico, além de terem perdido a visão política, ao procurarem transformar a prática política numa "sujeira".
As autoridades afirmam que a evidência do envolvimento das ONGs surgiu de três telefones apreendidos ao ex-deputado opositor Juan Pablo Guanipa, que foi detido na semana passada. Cabello contou ainda que, nos últimos dias, cerca de 60 "ataques" a instalações petrolíferas foram evitados.
"A paz foi assegurada e um novo ataque terrorista contra a Venezuela foi impedido. Esta é uma verdadeira organização terrorista", insistiu o ministro, sublinhando que mais de 70 pessoas foram detidas em vários estados, nomeadamente Zulia, Aragua, Carabobo, Miranda e Caracas.
A Amnistia Internacional tinha já alertado para um "aumento alarmante" nas detenções de ativistas na Venezuela, exigindo a libertação imediata de pessoas que considera terem sido detidas de forma arbitrária. "Estamos a acompanhar relatos de um crescente número de detenções de indivíduos ligados a sindicatos, partidos políticos e outras organizações comunitárias", frisou a AI.
Guanipa, o político detido, foi membro da Assembleia Nacional sob controlo opositor, eleito em 2015, e vice-presidente parlamentar em 2020, quando Juan Guaidó era presidente.
Após as recentes detenções, as vozes da oposição, incluindo a de Maria Corina Machado, têm sublinhado que as eleições legislativas e regionais deste fim de semana, em que o chavismo obteve 83,42% dos votos, foram marcadas por irregularidades e um ambiente repressivo. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirmou que 253 dos 285 assentos na Assembleia Nacional foram atribuídos a candidatos apoiados por Nicolás Maduro, enquanto 23 dos 24 estados do país ficarão sob a sua administração.
As autoridades eleitorais também não publicaram até ao momento resultados desagregados das eleições, criando um clima de incerteza em relação ao futuro político do país e à legitimidade do processo eleitoral.