O Departamento de Estado norte-americano apresenta um plano de reestruturação, com cortes profundos e mudanças significativas nas suas operações diplomáticas, gerando oposição entre veteranos e defensores dos direitos humanos.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou hoje ao Congresso um plano abrangente de reestruturação, que prevê cortes em diversos programas e uma redução ainda mais drástica de pessoal interno, que poderá chegar a 18%. Esta decisão, comunicada numa carta mencionada pela agência The Associated Press, reflete as intenções do governo do presidente Donald Trump de reformular a diplomacia americana e diminuir a dimensão da administração federal.
As alterações propostas vão além dos 15% de cortes inicialmente anunciados em abril. O plano inclui também a desativação de divisões responsáveis pela supervisão do envolvimento dos EUA no Afeganistão, entre as quais se destaca um gabinete dedicado à reinstalação de afegãos que colaboraram com as forças americanas.
A carta do Departamento de Estado indica que a reorganização abrangerá mais de 300 gabinetes e visa assegurar que a diplomacia americana se concentre nos objetivos principais de política externa e nas exigências globais contemporâneas. Segundo o departamento, a eliminação de unidades consideradas ineficazes ou redundantes é essencial para agilizar a burocracia.
No entanto, a proposta de reestruturação gera controvérsia, particularmente em relação aos cortes nos programas destinados a refugiados, imigração, direitos humanos e promoção da democracia, que o governo Trump considera estar ideologicamente desalinhados com suas prioridades. Acusações de que essas divisões estariam “influenciadas por radicalismos ideológicos” têm sido feitas, embora sem evidências concretas.
Dentre as divisões afetadas encontram-se o Gabinete de Questões Globais da Mulher e diversas iniciativas de diversidade que já foram eliminadas em várias agências federais sob a administração de Trump. A proposta defende que a promoção dos direitos das mulheres será uma prioridade em todas as esferas de atuação diplomática, ao invés de um foco exclusivo em um gabinete específico.
A decisão de eliminar o Gabinete de Coordenação para Esforços de Realocação de Afegãos (CARE) também gerou um clamor entre grupos de veteranos e defensores dos direitos, que têm se dedicado nos últimos três anos à realocação e integração dos afegãos nos Estados Unidos após a retirada americana do Afeganistão. A comunidade levantou preocupações sobre o que consideram um desmantelamento, com vozes como a de Shawn VanDiver, um veterano da Marinha, que classificou a situação como uma traição aos valores americanos.
O CARE, criado em outubro de 2021 para ajudar afegãos que cooperaram com militares dos EUA, foi aclamado por simplificar os processos de imigração, que frequentemente eram vistos como excessivamente burocráticos. O futuro do core da missão do CARE é agora incerto, após a decisão de realocar suas funções para o Gabinete de Assuntos do Afeganistão, levantando dúvidas sobre a continuidade de seu trabalho em apoio aos afegãos.
Em contraste, a recente promulgada Lei de Autorização de Defesa Nacional, assinada pelo presidente Joe Biden, tinha prolongado a operação do gabinete por mais três anos, mas com a nova administração, muitos temem pela sua sobrevivência e eficácia. A eliminação abrupta do gabinete, sem um plano claro ou transição, foi considerada uma falta grave para muitos que acreditam nos princípios de compromisso e assistência humanitária dos EUA.