Embora essenciais para a proteção da pele contra radiações solares, protetores solares podem prejudicar ecossistemas aquáticos e a saúde humana, alertam especialistas.
À medida que a temporada de praia se aproxima, o uso de protetores solares é amplamente recomendado para evitar os riscos da exposição solar, como o cancro. Contudo, especialistas em biologia marinha alertam para os impactos negativos que estes produtos têm no meio ambiente.
A bióloga Eva Iñiguez, atualmente a doutorar-se no MARE-Madeira, sublinha que “os protetores solares são compostos químicos desenvolvidos pelo Homem e, como tal, têm sempre um impacto negativo no ambiente.” Ela questiona a crença de que os filtros solares minerais são menos prejudiciais, mencionando que ainda não existem estudos suficientes para confirmar a sua inocuidade.
Estudos revelam que alguns ingredientes, como a oxibenzona, estão associados ao branqueamento de corais, um fenómeno já bem documentado. A entidade HRSD, dos EUA, estima que entre seis e 14 mil toneladas de protetores solares, contendo até 10% de oxibenzona, são liberadas anualmente em áreas de recifes de coral. A NOAA também assinalou que estes compostos, que bloqueiam a radiação UV, impactam os recifes e outros ecossistemas aquáticos.
A Professora Rita Maurício, da NOVA FCT, adverte que numa praia com mil visitantes, cerca de 35 quilos de compostos são liberados na água. “Estes compostos encontram-se também em produtos como champôs e tintas de cabelo e acabam nas estações de tratamento de águas residuais, que não estão preparadas para filtrá-los.” Apesar de a concentração de alguns destes compostos estar a diminuir, a presença deles em organismos aquáticos e até em humanos já foi evidenciada, sendo motivo de preocupação.
A investigadora Marta Martins inspeciona os efeitos prejudiciais da poluição marinha. Ela defende que a toxicidade dos protetores deve ser uma prioridade nas escolhas de consumo, enfatizando a necessidade de desenvolver alternativas menos cáusticas. “Devemos priorizar protetores solares com menor toxicidade, pois os efeitos se estendem a todo o ecossistema.”
A venda de produtos menos contaminantes frequentemente apresenta preços mais elevados, o que suscita debate sobre a acessibilidade e a educação do consumidor. Apenas a conscientização permite escolhas informadas e conscientes.