No Porto, pombos desempenham papéis variados, desde atletas a aves protegidas. Descubra como esses pássaros moldam e são moldados pelo ambiente urbano.
Na vibrante urdidura do Porto, os pombos surgem em diferentes papéis: desde atletas de elite em competições, a aves protegidas, e ainda a habitantes citadinos em busca de sustento.
Embora muitos os vejam como animais sem grande valor, a verdade é que por trás das suas penas cinzentas esconde-se uma impressionante história de resiliência, especialmente no caso do pombo-correio. Segundo Cândido Regal, presidente da Associação Columbófila do Distrito do Porto, "um pombo vive num ambiente específico, com a sua casa e tratador, e é treinado para ser um atleta". Esta modalidade de desporto, que já foi a segunda mais popular em Portugal, envolve o transporte de pombos a longas distâncias, desafiando-os a regressar o mais rapidamente possível ao seu pombal.
No entanto, nem sempre os pombos conseguem cumprir essa missão. Eles podem perder-se devido a acidentes ou exaustão, levando-os a procurar alimento e descanso para recuperarem forças. Durante essas buscas, podem encontrar-se com o pombo-torcaz, uma espécie selvagem protegida que, apesar de não participar em competições, também realiza longas migrações.
Enquanto o pombo-torcaz opta por nidificar em árvores, o pombo doméstico, muitas vezes rotulado como 'rato com asas', adapta-se perfeitamente às fendas e reentrâncias dos edifícios urbanos.
Julieta Costa, coordenadora da Conservação Terrestre na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), aponta que "a presença dos pombos impacta as estruturas urbanas, e os seus dejetos, muitas vezes ácidos, podem causar danos em edifícios históricos". Para minimizar esses efeitos, são implementadas várias estratégias, como a instalação de espigões e o uso de rações contraceptivas.
Enquanto uns tentam afastar os pombos para desfrutar de um café tranquilo, outros atraem-nos com migalhas, uma prática que, embora pareça simpática, prejudica os próprios pombos e o ecossistema. "A nossa comida não é compatível com o seu sistema digestivo, e as sobras que deixam podem alimentar pragas como as ratazanas", acrescenta Julieta.
Alimentar aves em espaços públicos não é apenas nocivo, mas também ilegal, conforme informa a Câmara Municipal do Porto, que já instaurou várias participações por esta infração.
Apesar das restrições atuais, o papel dos pombos na comunicação humana é inegável. "Foram fundamentais na transmissão de mensagens", salienta a coordenadora. Pombos como o Cher Ami, que trouxe mensagens vitais durante a Primeira Guerra Mundial, são exemplos da relevância desta espécie no passado militar.
Outrora, os pombos serviram também como uma importante fonte de alimento durante períodos de escassez, mas com a evolução das necessidades humanas, essa prática caiu em desuso e os pombos tornaram-se predominantemente espécies ornamentais.
Ao longo do tempo, o pombo doméstico passou a ser visto de forma ambivalente: se antes era um amigo dos jardins, atualmente a sua superpopulação traz desafios. Sobrevivendo em ambientes urbanos, estes pombos dependem da alimentação humana, uma adaptação que resulta da sua longínqua evolução em parceria com os seres humanos. "É fundamental uma gestão responsável destas espécies para que consigam coabitar connosco de forma harmoniosa", conclui Julieta.
Assim, desde os pombos que competem em provas até os que repousam em árvores ou se alimentam em mercados, todos se entrelaçam na complexa rede da vida urbana do Porto, invisíveis para muitos, mas uma parte integrada da cidade desde há gerações.