A participação de Israel na Eurovisão desperta tensões entre a TV espanhola e a UER, com o envolvimento de figuras políticas. Entenda a discussão acesa sobre direitos humanos e a música.
A 69.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que teve lugar em Basileia, na Suíça, gerou uma onda de controvérsia entre a televisão pública espanhola RTVE e a União Europeia de Radiodifusão (UER). Até o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, fez declarações sobre a participação de Israel, suscitando um amplo debate. Mas qual foi a origem de toda esta discussão?
As tensões começaram a ganhar destaque em abril, com a RTVE a solicitar a “abertura de um debate” relativamente à participação da emissora israelita KAN, em função das “preocupações manifestadas por diversos grupos da sociedade civil em Espanha”, que se referem à atual situação em Gaza. Este tema foi relembrado durante a segunda semifinal da Eurovisão, onde os comentadores espanhóis, Tony Aguilar e Julia Varela, mencionaram o apelo da RTVE para a abertura do debate, destacando o elevado número de mortes de palestinianos, incluindo muitas crianças.
A UER respondeu às declarações da RTVE, informando que esta poderia ser penalizada se voltasse a abordar a questão política durante a final. Numa comunicação enviada à chefe da delegação espanhola, Ana María Bordas, a UER sublinhou que as regras da Eurovisão proíbem declarações que possam comprometer a neutralidade do concurso, enfatizando que o número de vítimas não deve ser abordado em um evento de entretenimento apolítico, cuja premissa é a união pela música.
Apesar do aviso, a RTVE não hesitou em publicar uma mensagem em fundo preto nas suas redes sociais, afirmando: “Perante os direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina”.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, também se pronunciou, defendendo a exclusão de Israel de competições internacionais, comparando a situação à exclusão da Rússia após a invasão da Ucrânia em 2022. Ele criticou a existência de padrões duplos, insistindo que a falta de reacción por parte da comunidade internacional em relação à exclusão da Rússia não se aplicava igualmente a Israel.
A votação dos telespectadores espanhóis, que atribuiu 12 pontos ao representante israelita, suscitou ainda mais críticas, levando a RTVE a solicitar uma reavaliação do sistema de televoto. O ministro israelita da Diáspora e Combate ao Antissemitismo chegou a classificar a decisão dos telespectadores como uma “bofetada” ao primeiro-ministro Sánchez, destacando que a repercussão do televoto foi sentida até em Jerusalém.
Além de Espanha, a TV pública belga VRT exigiu total transparência sobre o sistema de votação da Eurovisão, colocando em questão a sua futura participação no festival. Durante a atuação de Israel, a emissora interrompeu a transmissão, exibindo um ecrã negro em protesto contra as violações de direitos humanos em Gaza e pedindo um cessar-fogo.
A polêmica culminou com Israel a alcançar o segundo lugar na competição, embora tenha sido superado pela Áustria nos momentos finais. O desempenho israelita no júri profissional foi modesto, mas o apoio popular levou a uma pontuação relevante, reforçando as tensões que permeiam o festival em uma situação de profunda crise humanitária na região.