Um projeto de exploração mineral em Grândola e Alcácer do Sal é alvo de críticas por parte de ambientalistas e agricultores, que temem impactos sérios nos recursos hídricos da região.
O projeto da Mina da Lagoa Salgada, que visa a extração de cobre, chumbo e zinco nas freguesias de Grândola e Alcácer do Sal, suscita preocupações significativas devido ao seu potencial impacto adverso nos recursos hídricos. Seis organizações civis, incluindo a Zero e a Associação de Agricultores de Grândola, emitiram um comunicado a alertar sobre os riscos associados a esta iniciativa, que foi classificada em abril de 2022 como de Potencial Interesse Nacional (PIN).
Na sua comunicação, as organizações destacam que o projeto inclui a exploração de ouro através de cianeto de sódio, uma substância reconhecida pela sua alta toxicidade. Para os subscritores do comunicado, este desenvolvimento não apenas prejudica o ambiente como também socialmente afeta os concelhos envolvidos, pondo em evidência o uso do estatuto PIN para facilitar aprovações de projetos que, na sua visão, carecem de relevância pública.
A posição foi divulgada no contexto da consulta pública ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA), que terminou a 30 de abril, recebendo 630 contributos. A área destinada ao empreendimento abrange 1.649 hectares e prevê incluir infraestruturas para a geração de energia fotovoltaica, corredor elétrico e conduta de água.
As organizações lamentam que, apesar de a mina ter uma perspetiva de funcionamento limitada a 11 anos, o EIA levanta questões sérias sobre os impactos nos recursos hídricos, o fragmento do projeto e a eficácia das compensações florestais. O consumo diário projetado de água, que se estima em 864 metros cúbicos, é um dos principais pontos de contenda, uma vez que dependerá exclusivamente de fontes subterrâneas em um contexto de já reconhecida escassez hídrica na região do Sado e Mira.
Além disso, assinalam a falta de um plano que assegure o abastecimento da mina durante períodos de seca e a presença de áreas geológicas que poderiam provocar escorrências ácidas, implicando um risco adicional para a contaminação da água. A utilização de cianeto de sódio no processo de extração do ouro é igualmente vista como uma opção inaceitável, dada a elevada toxicidade da substância e a existência de alternativas tecnológicas menos prejudiciais.
Por fim, as organizações expressam dúvidas quanto à eficácia das medidas propostas para compensar o abate de sobreiros e lamentam a ausência de avaliação dos projetos relacionados à linha elétrica e à conduta de água, destacando o descontentamento manifestado pela Câmara e Assembleia Municipal de Grândola, que já recorreram ao sistema judicial para contestar o investimento, tal como a Câmara de Alcácer do Sal.