Novas técnicas de irradiação com raios gama prometem melhorar a reciclagem de plásticos, convertendo resíduos em materiais mais valiosos e sustentáveis.
A tecnologia nuclear surge como uma solução inovadora para enfrentar a poluição plástica, um desafio cada vez mais preocupante. A recente celebração do Dia Mundial do Ambiente, marcado pelo lema "Não à poluição plástica", destacou a urgência de abordagens eficazes.
Em 2022, a produção global de resíduos plásticos atingiu cerca de 400 milhões de toneladas, e a previsão da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico aponta para uma triplicação desse número até 2060.
Inserida neste contexto, a iniciativa NUTEC (Tecnologia Nuclear para o Controlo da Poluição Plástica) apresenta-se como uma alternativa às tradicionais reciclagens mecânicas e químicas. Promovido pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), este projeto envolve já 99 países na monitorização de microplásticos nos oceanos e 52 na pesquisa de novas técnicas de reciclagem.
Conforme salientado pela AIEA, a irradiação com feixes de raios gama é uma metodologia “muito eficaz” para aprimorar a separação do plástico reciclado, que, depois de lavado e triturado, pode ser processado de forma mais eficiente. Este método atua sobre os polímeros, que são compostos por várias macromoléculas, resultando em plásticos mais puros e de maior valor.
O processo de irradiação determina, por um lado, a degradação dos resíduos, que assim se tornam mais fáceis de reprocessar. Em paralelo, a reticulação cria ligações cruzadas entre as cadeias moleculares, melhorando as propriedades dos plásticos. A técnica também aumenta a compatibilidade dos polímeros, permitindo a reestruturação dos resíduos por meio de um processo conhecido como "enxertia". A oxidação, por sua vez, favorece a fusão com outros plásticos e aglutinantes.
Com a modificação resultante desse processo, os resíduos plásticos podem ser transformados em novos produtos industriais. Países como Argentina, Filipinas, Malásia e Indonésia já estão a implementar projetos-piloto que incluem a produção de travessas de caminho de ferro, compósitos de madeira e plásticos utilizados na construção civil e como combustível.
"Estamos a transitar da fase de investigação para a aplicação prática", afirmou Azillah Binti Othman, responsável pelo tratamento de radiações da AIEA. A implementação total do programa está prevista para 2026.
Além disso, a AIEA tem desenvolvido competências na deteção, monitorização e rastreio de plásticos e microplásticos nos oceanos, com a meta de aumentar de 21 para 50 o número de laboratórios equipados mundialmente com as tecnologias necessárias. Até agora, já foram designados centros de referência na Austrália e no Kuwait, com laboratórios também em Belize, Brasil, Chile, China, Equador, Emirados Árabes Unidos e Panamá, entre outros.
A REMARCO (Red de Investigación de Estresores Marinos-Costeros), criada em 2018, procura evidências científicas sobre o estado do ambiente marinho por meio de técnicas nucleares e isotópicas.
Por último, a segunda parte da quinta sessão do Comité de Negociação Intergovernamental (INC), que trabalha na criação de um acordo internacional sobre poluição plástica, ocorrerá em Genebra entre 5 e 14 de agosto.