Um relatório do Governo Trump que aborda a saúde das crianças norte-americanas cita estudos inexistentes, expondo falhas graves na investigação sobre doenças crónicas.
O relatório intitulado "Make America Healthy Again", publicado a 22 de maio, foi encomendado pela administração de Donald Trump e estava destinado a analisar as doenças crónicas que afetam os jovens nos Estados Unidos. Contudo, revelações feitas hoje indicam que pelo menos quatro dos estudos referidos no documento nunca existiram, de acordo com as fontes que alegadamente os escreveram.
A análise aponta uma correlação entre os alimentos ultraprocessados, pesticidas e o aumento de doenças crónicas entre crianças, além de questionar a eficácia das vacinas. No entanto, várias citações atribuídas a investigadores de renome foram desmentidas, como reportado pela agência France-Presse (AFP).
Noah Kreski, investigador da Universidade de Columbia, declarou à AFP que uma das citações a ele atribuídas "não provém de nenhum dos meus estudos", sugerindo que a informação era infundada. Além disso, a mesma referência continha um link que não redirecionava corretamente para um artigo na prestigiada revista Journal of the American Medical Association (JAMA).
Jim Michalski, representante da JAMA, confirmou que tal artigo não foi publicado na revista, nem em qualquer uma das suas edições. Harold Farber, da Baylor College of Medicine, também afirmou que a citação que lhe foi atribuída "não existe".
A Virginia Commonwealth University indicou que Robert Findling não escreveu o artigo mencionado no relatório sobre medicamentos psicotrópicos, enquanto um artigo sobre tratamentos para défice de atenção, supostamente publicado na revista Pediatrics em 2008, também não foi encontrado, segundo Alex Hulvalchick da Academia Americana de Pediatria.
O Departamento de Saúde dos EUA optou por não comentar a situação e remeteu as questões para a Casa Branca. O relatório "Make America Healthy Again" era esperado com entusiasmo por profissionais de saúde pela sua relevância na discussão sobre saúde pública, especialmente tendo em conta o papel controverso de Robert Kennedy Jr., criticado pelas suas posições antivacinas.