Investigadores da Universidade de Coimbra lideram uma pesquisa global de 30 anos que identifica áreas críticas nos oceanos, visando melhorar a proteção da megafauna marinha.
A Universidade de Coimbra (UC) teve um papel ativo numa investigação que analisou mais de 12 mil indivíduos pertencentes a 110 espécies de megafauna marinha ao longo de três décadas. O objetivo deste trabalho foi identificar os locais mais ameaçados nos oceanos do mundo, com vista a reforçar a conservação marinha.
Esta equipa internacional de cientistas, composta por especialistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, é coordenada pela Universidade Nacional da Austrália (ANU) e conta com o apoio financeiro da Organização das Nações Unidas (ONU).
O projeto denominado "MegaMove" agrega cerca de 400 cientistas de mais de 50 países e fornece informações cruciais sobre onde é necessário implementar medidas de proteção para a megafauna marinha.
De acordo com a FCTUC, atualmente, apenas 8% dos oceanos está sob proteção, enquanto a ONU visa aumentar essa cifra para 30%. Contudo, os resultados da pesquisa indicam que os objetivos do tratado, que conta com a assinatura de 115 países, são insuficientes para abranger todas as zonas críticas utilizadas por espécies ameaçadas, revelando a necessidade de estratégias adicionais para enfrentar as ameaças existentes.
O estudo concentrou-se na identificação de áreas utilizadas pela megafauna para atividades essenciais, como alimentação e migrações, cujo mapeamento se baseia nos padrões de movimento dos animais. Vítor Paiva, investigador do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da FCTUC, destacou que as áreas essenciais para esses animais estão frequentemente sobrepostas a várias ameaças, como a pesca, o tráfego marítimo, a poluição por plásticos e o aumento da temperatura das águas.
Um exemplo notável é a cagarra, uma ave marinha que se reproduz nos Açores, Madeira e Berlengas, mas que anualmente migra para a costa sul do Brasil, África do Sul ou Moçambique, ilustrando a sua vasta exploração do ambiente marinho e a exposição a riscos em diferentes regiões oceânicas.
Os especialistas argumentam que, embora a meta de proteger 30% dos oceanos seja uma iniciativa louvável, pode não ser suficiente para garantir todas as áreas de importância crítica, sublinhando a urgência de implementar medidas adicionais de mitigação que aliviem a pressão fora das zonas protegidas.
Entre as soluções propostas destacam-se a alteração das artes de pesca, a utilização de iluminação diferenciada nas redes e um melhor planeamento do tráfego marítimo, que são consideradas essenciais para reduzir o impacto humano sobre estas espécies vulneráveis.
A megafauna marinha, que inclui aves marinhas, tubarões e baleias, desempenha papéis vitais nas cadeias alimentares dos oceanos, mas enfrenta ameaças crescentes devido à degradação ambiental causada pelo ser humano.