No Fundão, a colheita de cerejas depende cada vez mais de imigrantes, uma tendência que destaca a dificuldade dos agricultores em encontrar mão de obra local.
No coração da tradição agrícola do Fundão, a colheita de cerejas enfrenta um grande desafio: a escassez de mão de obra local. João Filipe Mendes, um produtor da aldeia de Alcongosta e descendente de comerciantes de cereja que já vão na quarta geração, observa que a emigração e a desmotivação entre os jovens para trabalhar na agricultura têm dificultado a contratação de trabalhadores locais.
No entanto, a solução encontrada tem sido a crescente presença de imigrantes. Na quinta de Castelo Novo, 31 dos 41 operários envolvidos na campanha de colheita de cerejas são nepaleses. O empresário destacou: "Sem imigrantes, não haveria colheita de cerejas em Portugal, pois os portugueses não estão disponíveis para trabalhar." Para contornar esta situação, recorreu a empresas de trabalho temporário e ao Centro de Acolhimento de Trabalhadores Temporários do Fundão, priorizando contratos diretos com trabalhadores nepaleses, que considera mais habilidosos e dedicados.
O ambiente nos pomares, sob o calor do sol na serra da Gardunha, é animado, mesmo com a colheita a atrasar este ano. As cestas transitam rapidamente, acompanhadas pelo barulho de máquinas e tentativas de afastar aves. Shiva Pun, um trabalhador há oito anos na empresa, destaca a facilidade com que se adaptou ao trabalho e a sua função de auxiliar outros trabalhadores.
Bishnu Kandel, um nepalês de 31 anos que deixou o emprego num hotel para buscar melhores oportunidades em Portugal, encontrou estabilidade na colheita de cerejas. Ele elogia as condições de trabalho e já trouxe a esposa, Mina, para o país, que, apesar das dificuldades, tem conseguido comunicar através de gestos.
João Filipe Mendes investiu em habitação digna para os seus trabalhadores e assegura condições adequadas, como transporte para compras e serviços médicos. Essa ética nas relações de trabalho traz colaboração mútua. No entanto, a barreira da língua e a burocracia para regularizar a situação familiar dos trabalhadores têm sido um desafio significativo, levando-o até a contratar um advogado.
O empresário sugere a criação de uma bolsa de trabalhadores para atender picos de colheita e ressalta a necessidade de uma fiscalização eficaz para preservar a reputação dos agricultores, fazendo um apelo a que os standards estabelecidos pela marca Cereja do Fundão sejam respeitados.