Historiador propõe preservação de estátuas coloniais com contextualização

O historiador Luís Reis Torgal, professor aposentado da Universidade de Coimbra, defendeu recentemente a preservação das estátuas de figuras do colonialismo português. Em declarações à agência Lusa, o académico afirmou que é essencial que essas estátuas se mantenham e sejam acompanhadas de explicações que contextualizem o seu significado histórico.

Torgal frisou que a legitimidade histórica varia com as épocas, e considera que, mesmo estátuas associadas ao período da ditadura do Estado Novo, não devem ser destruídas. “Acho que essas estátuas devem manter-se. Para cada época, há uma legitimidade histórica e mudam-se os símbolos," comentou.

O historiador sublinhou a importância de incluir informações nos próprios monumentos sobre o papel das figuras retratadas no contexto histórico, sugerindo que as câmaras municipais devem clarificar as razões por detrás da mudança ou manutenção dos nomes de ruas e praças.

Na conversa, Torgal referiu dois casos concretos: a estátua do major Neutel de Abreu, um importante figura colonial, localizada em Figueiró dos Vinhos, e o monumento "Aos heróis do Ultramar", em Coimbra. Neutel de Abreu, que nasceu e morreu na região, foi um dos fundadores da cidade de Nampula, em Moçambique, e teve envolvimento nas campanhas de pacificação na África Oriental Portuguesa.

O descerramento da sua estátua ocorreu em 1986, enquanto que o monumento em Coimbra foi inaugurado em 1971, durante um período de grande convulsão social. Torgal enfatizou que a evolução da memória histórica é dinâmica e não deve conduzir a extremismos.

Jorge Abreu, presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, reconheceu a importância da geminação da cidade com Nampula, ressaltando a relevância histórica do major Neutel de Abreu. Por outro lado, mencionou que a removida estátua de Neutel em Nampula foi substituída por um memorial aos Heróis Moçambicanos, simbolizando uma mudança no reconhecimento histórico.

Por fim, Torgal recordou eventos passados em que a destruição de estátuas era comum, avaliando que, com a perspectiva atual, seria preferível encontrar formas de explicar a história, em vez de apagar os vestígios dela.