A recente desavença entre Elon Musk e Donald Trump levanta preocupações sobre o futuro das colaborações no setor espacial, com implicações para a NASA e o Pentágono.
Elon Musk, muito além de ser um empresário bem-sucedido, tornou-se uma figura fundamental no setor espacial nos últimos anos, com várias missões críticas a cargo da sua empresa, a SpaceX, confiadas pelo governo dos Estados Unidos.
No entanto, a relação entre Musk e Donald Trump sofreu um golpe significativo após um conflito explosivo, deixando em suspense o futuro das colaborações entre o governo e a empresa de Musk.
Os foguetes da SpaceX têm sido responsáveis pelo transporte de astronautas da NASA, estão envolvidos em missões do Pentágono e deveria, em breve, desempenhar um papel chave no regresso dos Estados Unidos à Lua.
Na quinta-feira, a tensão escalou, com Trump e Musk a trocarem insultos através das suas redes sociais. O presidente ameaçou "cancelar subsídios e contratos governamentais" da SpaceX, ao que Musk respondeu que "desativaria a sua nave espacial Dragon", embora tenha recuado mais tarde.
Esta disputa inusitada evidencia a dependencia mútua entre o governo americano e a SpaceX, levantando sérias preocupações sobre as repercussões dessa rutura, ainda que, segundo especialistas, uma separação total pareça improvável, dado o impacto negativo que teria para ambos.
A SpaceX, fundada em 2002, rapidamente estabeleceu-se como um gigante no setor espacial, com contratos milionários com várias agências governamentais. "Retirar a SpaceX do cenário causaria uma interrupção significativa nas operações da NASA e do Pentágono", alertou Clayton Swope, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), à agência France-Presse (AFP).
Uma das consequências imediatas poderia ser que os Estados Unidos e os seus aliados, incluindo a Agência Espacial Europeia (AEE), Japão e Canadá, teriam que voltar a depender da Rússia para o transporte de astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS), uma situação considerada indesejável no atual contexto geopolítico, segundo a analista Laura Forczyk.
A cápsula 'Dragon' é o único veículo norte-americano autorizado a transportar astronautas, uma vez que a 'Starliner' da Boeing enfrentou atrasos e problemas durante os testes.
Uma separação definitiva da SpaceX representaria um "cenário catastrófico" para a administração de Trump e para Musk, dadas as enormes quantias em jogo, conforme enfatiza Swope.
Diante desses riscos, especialistas acreditam que ambos procurarão resolver as suas divergências e reestabelecer as suas ligações comerciais.
Contudo, Trump, que tem mostrado um forte compromisso com a lealdade, já demonstrou que pode usar o poder governamental para atacar empresas, como fez com a Universidade de Harvard e a Apple.
A NASA, por sua vez, anunciou na sexta-feira que está a considerar a possibilidade de um voo da 'Starliner' para a ISS no início de 2026, o que poderia indicar um afastamento da SpaceX.
A contenda com Trump também pode beneficiar concorrentes da SpaceX, como a Blue Origin, de Jeff Bezos, e suscitar novas discussões sobre a excessiva dependência do governo em empresas privadas no setor espacial.
"Talvez seja hora de repensar a confiança depositada nas empresas, especialmente em atividades sensíveis", avaliou Clayton Swope.
Laura Forczyk advertiu ainda que isso pode prejudicar a indústria espacial como um todo, e uma possível diminuição nas ambições espaciais de Trump poderá afetar os planos de longo prazo da NASA, que já enfrenta dificuldades financeiras e continua sem um administrador desde a demissão de um aliado de Musk.