O responsável da REN esclareceu que o apagão inicial de abril foi uma situação fora do normal, com factores que impossibilitaram a sua contenção na fronteira.
Um mês após o apagão que afetou o fornecimento de eletricidade em Portugal e Espanha, João Conceição, administrador executivo da REN, afirmou que a situação que conduziu a este incidente foi de tal gravidade que impossibilitou a sua contenção na fronteira. Durante o seminário "Segurança de Abastecimento em Portugal", realizado em Lisboa por ocasião do Dia Mundial de Energia, o gestor destacou que, apesar de já disporem de mais informações, não era adequado divulgar detalhes devido a investigações em curso.
Conceição confirmou que o apagão teve origem em Espanha e explicou que os sistemas de deslastre implementados para evitar a sobrecarga do sistema estavam a funcionar correctamente. No entanto, "a dimensão do problema foi de natureza tão violenta que não havia medidas mitigadoras que pudessem conter a situação na fronteira", sublinhou.
O administrador não hesitou em afirmar que a REN cumpriu com as suas obrigações e que todo o sector trabalhou de forma eficaz. Na quarta-feira, 28 de maio, a REN e a E-Redes submeteram um relatório ao regulador do sector que caracteriza o apagão como um "evento excecional", uma designação que poderá influenciar eventual indemnizações aos consumidores.
Durante o seminário, João Conceição observou que o sector energético se tornou mais complexo e democrático, permitindo a qualquer um ser consumidor e produtor de energia. Enfatizou a necessidade de continuar a fomentar a transição energética, garantindo assim que novos apagões não ocorram no futuro. Ele também referiu a importância de desenvolver soluções de armazenamento que combinem viabilidade técnica, económica e de mercado.
O diretor da Direcção Geral de Energia e Geologia, Paulo Carmona, realçou que o apagão representou um teste crucial à resiliência do sistema elétrico, especialmente na verificação da funcionalidade das centrais com arranque autónomo (blackstart). Após o incidente, foram activadas centrais como as de Castelo de Bode e Tapada do Outeiro, e a ERSE ordenou à REN o licenciamento de duas centrais adicionais com essa capacidade, Baixo Sabor e Alqueva, a entrar em funcionamento em janeiro de 2026.
Em conclusão, José Ferrari Careto, da E-Redes, elogiou o tempo de restabelecimento da energia, considerando-o dentro dos padrões internacionais. No dia do apagão, a empresa teve 600 trabalhadores mobilizados para actuar em caso de emergência.
O incidente causou perturbações significativas no fornecimento de eletricidade em Portugal, Espanha e partes da França. As investigações preliminares indicam uma perda abrupta de geração solar como causa. A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade está a investigar, considerando o evento como excepcional e grave, e deverá apresentar o relatório final até 28 de outubro.