"Ambiente de Medo Potencializa a Vulnerabilidade à Desinformação"

Na sua recente entrevista à agência Lusa, a investigadora Joana Gonçalves de Sá, associada ao Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), abordou o impacto de um ambiente mediático de medo na capacidade das pessoas de discernirem informações verídicas.

Gonçalves de Sá sublinhou que "a desinformação prospera em instintos básicos e emoções primitivas". A sua preocupação reside no fato de que, ao criar um meios onde o medo do outro—como imigrantes, crises globais, conspirações e corrupção—predomina, o público torna-se mais vulnerável a notícias falsas.

Ela esclareceu que a repetição constante de certas informações pode transformar uma narrativa em verdade, "dando luz a desinformação que explora emoções primárias". A investigadora também mencionou o papel da inteligência artificial (IA) neste fenómeno, que, embora facilite a geração de conteúdos enganosos, pode ser uma aliada na deteção de informações falsas.

Gonçalves de Sá está actualmente a trabalhar em dois projectos financiados pela União Europeia relacionados com desinformação e vieses algorítmicos. Na conferência "Os Cidadãos Podem Derrotar a Desinformação", que teve lugar em Lisboa, também participou o jornalista Niko Efstathiou, do Instituto Reuters, que realçou a rapidez com que a IA produz conteúdos convincentes, dificultando a sua refutação.

A diretora de informação da Lusa, Luísa Meireles, introduziu o conceito de meta-jornalismo, onde os jornalistas publicam notícias enquanto as apuram, o que pode acarretar sérios riscos. Bernardo Ferrão, diretor de informação da SIC, destacou o essencial papel do 'fact-checking', particularmente do Polígrafo, que surge como uma resposta à velocidade do jornalismo atual, muitas vezes incapaz de validar informações antes da divulgação.