Almirante Gouveia e Melo alerta para desafios marítimos em novo contexto geopolítico

O almirante na reserva e candidato presidencial, Gouveia e Melo, fez um chamado de atenção durante uma conferência na cidade da Praia, destacando as possíveis ameaças aos territórios marítimos de Cabo Verde e de Portugal. Este alerta surge em face do que considerou ser um "prenúncio" de uma nova ordem global.

“Se a ordem internacional se alterar, todas as questões relacionadas com a zona económica exclusiva e a plataforma continental podem ser comprometidas”, afirmou Gouveia e Melo.

O almirante expressou a sua preocupação quanto à possibilidade de novas perspectivas que propõem que a extensão marítima de pequenos países seja repartida consoante a sua população ou segundo outras lógicas.

“É essencial que Portugal e Cabo Verde analisem com rigor as alianças que estabelecem. Não me refiro apenas a alianças militares, mas também políticas, culturais e comerciais. Toda esta dinâmica está em jogo”, acrescentou.

Ele anteviu que tanto Cabo Verde como outras nações poderão enfrentar desafios que exigem diplomacia, inteligência e bom senso, face a uma nova ordem mundial guiada por relações de poder. Gouveia e Melo referiu-se à invasão da Ucrânia, indicando que “uma potência tenta violar as fronteiras de outra, reescrevendo a geografia e a história”, com a complacência dos Estados Unidos.

A legitimação de novas fronteiras por Washington no leste da Ucrânia poderá ser um sinal da emergente ordem mundial alicerçada no poder, justificou o almirante.

No âmbito da sua intervenção, Gouveia e Melo propôs uma aliança estratégica entre Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, visando o desenvolvimento da economia azul atlântica. “Deveríamos criar um acordo especial – a 'maraconésia' cuja língua comum é o português”, sugeriu.

Este conjunto de territórios, segundo ele, unido em torno de uma estratégia de crescimento sustentável e de exploração da economia do mar, poderá proporcionar um posicionamento político e económico relevante, especialmente quando se considera o aumento populacional em África.

Gouveia e Melo identificou-se como "atlantista", refere-se à sua posição num "hub" de ligações fundamentais para metade da população do planeta, defendendo a importância das indústrias ligadas ao mar e à economia digital. “A ligação entre o Atlântico e a economia do futuro, através de serviços digitais via cabos submarinos, já está em curso e Cabo Verde está bem posicionado para receber novos investimentos”, concluiu, ao destacar a relevância de haver infraestruturas de dados e energia para a nova economia, além dos tradicionais pilares económicos cabo-verdianos, como o turismo e a cultura.