Apesar dos avanços económicos, a pobreza persiste no Ruanda rural, com 80% da população nessas áreas em dificuldades, alerta a ONU.
A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu hoje um alerta sobre a continuidade da pobreza nas áreas rurais do Ruanda, mesmo após o país ter conseguido tirar aproximadamente 1,5 milhões de indivíduos dessa condição entre 2017 e 2024.
Apesar de ser frequentemente mencionado como exemplo de "milagre" económico desde o genocídio tutsi de 1994, o país ainda enfrenta o desafio de redistribuir a riqueza e o desenvolvimento de forma mais equitativa. Olivier De Schutter, relator da ONU para a pobreza extrema, enfatizou que, embora a taxa de pobreza tenha diminuído de 39,8% para 27,4% no período em análise, a situação permanece alarmante nas zonas rurais, onde 80% da população vive em condições de pobreza.
A economia ruandesa está a diversificar-se com investimentos em turismo e tecnologia, mas as taxas de subnutrição infantil nas áreas rurais são ainda alarmantes, atingindo cerca de 23% da população. Este contexto levantou preocupações sobre a inclusão dos benefícios do crescimento económico, que, segundo De Schutter, são majoritariamente usufruídos por uma elite urbana, predominantemente anglófona.
Embora Kigali aspire a integrar o grupo de países de renda média até 2035, enfrenta obstáculos significativos para promover um crescimento que beneficie a todos. A desigualdade está a aumentar, pois as mudanças na economia tendem a favorecer trabalhadores mais educados, conforme indicado pelo Banco Mundial.
A capital do país, Kigali, é responsável por 41% do PIB nacional, refletindo uma concentração de riqueza que não se estende a todas as regiões. Desde 2000, Paul Kagame lidera o Ruanda, tendo a Frente Patriótica Ruandesa (RPF) promovido amplamente as suas conquistas. Contudo, há desafios que persistem, com 65% dos trabalhadores agrícolas a viver com meios de subsistência limitados e falta de recursos nos serviços de saúde e educação.
Os dados do Conselho dos Direitos Humanos da ONU indicam que a economia do Ruanda cresceu cerca de 7,5% na última década, com mais de 8% anuais projetados entre 2021 e 2024. Contudo, De Schutter alerta que o crescimento económico beneficia sobretudo uma pequena elite e que a ligação entre expansão económica e redução da pobreza tem diminuído.
Com a dívida pública a aproximar-se dos 80% do PIB até janeiro de 2025, o Governo comprometeu-se a implementar cortes orçamentais. No entanto, De Schutter enfatiza a importância de não sacrificar os pobres em prol da redução do défice.