Vídeos captados na Cova da Moura mostram a PSP a colocar um objeto semelhante a uma faca perto do corpo de Odair, gerando polémica e exigindo uma investigação rigorosa.
O Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária (PJ) está a proceder à análise de seis vídeos, registados por um residente da Cova da Moura, onde Odair Moniz, um cidadão cabo-verdiano de 43 anos, foi mortalmente baleado por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) em outubro do ano passado. As imagens, segundo informações do Expresso, revelam um polícia a colocar um "objeto morfologicamente semelhante a uma faca" junto ao corpo da vítima.
Os vídeos foram filmados entre as 05h35 e as 06h03, logo após o incidente, e mostram o agente a posicionar o objeto próximo do pneu traseiro de um veículo que se encontrava estacionado nas imediações. O mesmo agente é visto a retirar duas bolsas que Odair tinha à cintura, inspecionando-as antes de as deixar no chão, também junto ao pneu.
Outro elemento da PSP foi filmado a observar estes acontecimentos. A acusação do Ministério Público referiu que, nas proximidades do local do crime, foi apreendido um punhal com 25 cm de comprimento, o que levanta ainda mais interrogações sobre a versão oficial, segundo a qual Odair teria tentado resistir à detenção e agredir os policiais com uma arma branca.
Odair Moniz, que residia no Bairro do Zambujal, em Amadora, foi alvejado na madrugada de 21 de outubro e faleceu pouco depois no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. Apesar das acusações que envolvem resistência à detenção, não há evidências de que tenha representado uma ameaça armada, contrariando assim o comunicado da Direção Nacional da PSP.
A defesa não optou pela abertura de instrução, indo diretamente para o julgamento. O Ministério Público também solicitou a extração de certidão para uma investigação independente sobre a possível falsificação do auto de notícia da PSP, alegando incongruências na documentação.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa têm contestado a versão policial dos acontecimentos, exigindo uma investigação metódica e imparcial para responsabilizar os envolvidos, apontando para uma cultura de impunidade dentro das forças policiais.
Na mesma semana, ocorreram tumultos no Zambujal e em outros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, que resultaram na destruição de autocarros, carros e caixotes do lixo, culminando com a detenção de cerca de duas dezenas de pessoas e a identificação de outros tantos suspeitos.