A investigadora Joana Gonçalves de Sá criticou a falta de financiamento em Portugal para enfrentar a desinformação, considerando os recursos disponíveis praticamente insignificantes.
A investigadora Joana Gonçalves de Sá, do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), expressou em entrevista à Lusa a sua preocupação com a ausência de financiamento destinado a combater a desinformação em Portugal. "Os investimentos para o desenvolvimento de algoritmos e para a auditoria da inteligência artificial são praticamente nulos", afirmou.
A sua intervenção ocorreu durante a conferência "Os cidadãos podem derrotar a desinformação", promovida pelo Conselho Económico e Social (CES) e pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE), que teve lugar no Teatro Thalia, em Lisboa.
Joana Gonçalves de Sá defende que a Comissão Europeia deveria aumentar significativamente o investimento em investigação, reconhecendo que há avanços nesse sentido, mas alertando para a perceção de que o financiamento à ciência é visto como um mero gasto em vez de um investimento. "Falta uma visão a longo prazo", acentuou.
Especificamente no que toca à desinformação e à inteligência artificial, a investigadora identificou uma "desproporção total de recursos". O PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para a área digital em Portugal representa apenas uma “gota de água” em comparação com os investimentos realizados por empresas como a Microsoft na OpenAI, responsável pelo ChatGPT.
Joana sublinhou que a atual situação implica uma contínua luta contra a desinformação, sem que haja um esforço sistemático e estruturado para estabelecer uma infraestrutura de investigação sólida. "O que existem são pequenas distribuições de fundos que resultam em projectos com uma ambição reduzida, capazes apenas de resolver problemas menores", alertou.
Ela defendeu que, para enfrentar adequadamente a desinformação, é imperativo um investimento muito maior. "Em Portugal, o único fundo relevante é o EMIF [European Media and Information Fund], gerido pela Gulbenkian, mas este está a chegar ao fim, deixando incertezas sobre o futuro", concluiu.